Acordar

Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras,

Acordar da rua do Ouro

Acordar do Rossio, às portas dos cafés,

Acordar

E no meio de tudo a gare, a gare que nunca dorme

Como um coração que tem que pulsar através da vigília e do sono.

Toda a manhã que raia, raia sempre no mesmo lugar,

Não há manhãs sobre cidades, ou manhãs sobre o campo

À hora em que o dia raia, em que a luz estremece a erguer-se

Todos os lugares são o mesmo lugar, todas as terras são a mesma,

E é eterna e de todos os lugares a frescura que sobe por tudo

E (…)

s.d.
Álvaro de Campos – Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. – 10.

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