Ripper – Patricia Cornwell

Ripper: The secret life of Walter Sickert Patricia Cornwell

Associo o nome da autora a thrillers, muito embora nunca tenha lido nada dela até este momento. Por estar disponível gratuitamente através da subscrição da Amazon Prime, acabei por descarregar e comecei a ler com a ideia de ler algo diferente, porque não tenho lido grande coisa de ficção e muito menos um thriller sobre Jack the Ripper.

Não há introdução, por isso ainda demorei um pouco a perceber que isto não se trata de ficção e sim de uma proposta – talvez  a melhor definição seja uma apresentação da convicção da autora em afirmar quem foi realmente Jack the Ripper.

Não tenho grandes ideias formadas sobre este caso. Tudo o que sei é superficial e tenho algumas noções do contexto, época e vagas ideias sobre possíveis autores. Mas nunca me dediquei a olhar para aquilo que se sabe sobre os crimes e por isso, comecei a ler o livro totalmente às cegas.

Este não é o primeiro livro que Cornwell dedica a este tema. Mas para quem pega neste livro, não há nada que faça alusão ao livro anterior e uma explicação sumária só acontece no final do livro, não tenho ideia se esse é o caso apenas na versão digital ou se na versão física os capítulos finais que deveriam ser introdutórios estão no início. De qualquer maneira, mesmo os capítulos finais não servem como uma verdadeira introdução e não sei se o primeiro livro dela sobre o tema se debruçou sobre aquilo que falta neste. O que é certo é que não existe nada que prepare o leitor para o que vai começar a ler.

E este é o meu primeiro grande problema com o livro. Ausente da narrativa está uma apresentação introdutória que situe no tempo e contextualize os crimes e, em particular, quem estudou os casos posteriormente e como as diferentes hipóteses para solucionar o enigma foram sendo desenvolvidas por diferentes pessoas. No fundo, tudo aquilo que seria necessário para alguém que, como eu, apenas tem conhecimento superficial sobre o assunto.

Algumas hipóteses são classificadas pela autora como absurdas, mas é preciso esperar uns valentes capítulos antes dessas hipóteses serem desvendadas e descritas, não antes de Cornwell ter feito os possíveis para as menosprezar. Não que me pareçam ser válidas – envolvem traços de teorias da conspiração – mas de qualquer forma, tendo tido alguma importância na evolução do pensamento em torno de Jack de Ripper, poderia haver um maior cuidado em apresenta-la.

Ripper: The secret life of Walter Sickert
Ripper: The secret life of Walter Sickert

Jack the Ripper é, para Patricia Cornwell, um artista conceituado inglês, Walter Sickert. Ela admite que não é a primeira pessoa a fazer tal proposta, mas sim é a primeira pessoa a tentar analisar os dados utilizando técnicas forenses actuais. Não que os dados que ela levanta não sejam convincentes, mas há muita especulação que é assumida como factos e faz-me alguma impressão que não exista algum cuidado em vincar que existem coisas que a esta distância são difíceis de provar.

Uma dessas especulações é, por exemplo, os problemas físicos que levaram a que Sickert tivesse sido submetido a operações cirúrgicas que o mutilaram e alteraram profundamente a sua psique. Havendo provas que Sickert realmente teve algum problema que o levou a ser operado diversas vezes enquanto criança, o problema em si e as consequências das operações que o poderão ter mutilado, são especulações da autora, nem sempre corroboradas por familiares. E embora ela as apresente como especulações, mais adiante são assumidos como factos e como os verdadeiros motivos por detrás dos terríveis crimes de Jack the Ripper.

Há momentos interessantes no livro, como por exemplo, a descrição de como a polícia inglesa estava organizada na altura, como os crimes eram investigados, a ausência de simples métodos como preservação do local do crime e do corpo, etc.

No fundo, o livro lê-se e ela apresenta alguns dados interessantes, mas a apresentação desta hipótese – em particular os últimos capítulos em que ela responde às críticas feitas após o lançamento do primeiro livro que escreveu sobre o tema – é feita de maneira demasiada tendenciosa e com uma convicção absoluta, o que talvez sirva para um thriller, mas não para um livro deste tipo.